“Pensava que escrevia por timidez, por não saber falar, pelas
dificuldades de encarar a verdade enquanto ardia, arvorava, arfava. Há muitos
que ainda acreditam que começaram a escrever pela covardia de abrir a boca. […]
Acreditei mesmo que escrever era uma fuga, pedra ignorada, silêncio espalhado,
um subterfúgio, que não estava assumindo uma atitude e buscava me esconder, me
retrair, me diminuir. Mas não. Escrever é queimar o papel de qualquer forma.
Desde o princípio, foi a maior coragem, nunca uma desistência, nunca um recuo,
e sim avanço e aceitação. Deixar de falar de si para falar como se fosse o
outro. Deixar a solidão da voz para fazer letra acompanhada, emendada, uma
dependendo da próxima garfada para alongar a respiração. Baixa-se o rosto para
levantar o verbo. É necessário mais coragem para escrever do que falar, porque
a escrita não depende só de ti. Nasce no momento em que será lida.”
— Fabricio Carpinejar.
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